quinta-feira, 2 de junho de 2016

Vida póstuma, 2

Réplica da estátua de Napoleão-Trajano
O coronel Chabert de Balzac, morto-vivo, diz que irá à praça Vendôme, "até o pé da coluna da praça Vendôme", que irá gritar seu nome e seus feitos e que, diante disso, "o bronze me reconhecerá!". É fascinante como Balzac, sutil e rapidamente, conjuga esses dois destinos, essas duas fábulas da vida póstuma - um coronel que retorna como mendigo, os mais de mil canhões de russos e austríacos da Batalha de Austerlitz transformados na Colonne Vendôme. A coluna foi construída em 1810 para comemorar a batalha vencida por Napoleão (e pelo coronel Chabert, e por tantos outros), a Batalha dos Três Imperadores, em 2 de dezembro de 1805. Mas a Colonne Vendôme é também um resgate e uma retomada da Coluna de Trajano, construída de 107 a 113 em Roma para comemorar os feitos do Imperador Trajano, especialmente a vitória sobre os Dácios. A primeira estátua de Napoleão posta no alto da coluna, em 1810 (que foi retirada em 1814 e derretida em 1818), retratava o intrépido corso vestido à romana, à maneira dos Césares
Coluna de Trajano em desenho de 1575
É digno de nota que essa primeira estátua, de Napoleão-Trajano, tenha sido derretida em 1818 e seu material destinado à construção da estátua de Henrique IV, Henri le Grand, rei da França de 1589 a 1610. A primeira estátua de Henrique IV foi inaugurada em 1614, tendo sido destruída durante a Revolução Francesa. Com a queda de Napoleão e o advento da Restauração da Monarquia, uma segunda estátua de Henrique IV é feita em 1814 (ironicamente, o cavalo utilizado como modelo para essa estátua foi retirado por Napoleão do Portão de Bramdenburgo, em Berlim - eram quatro cavalos de bronze, e foram todos enviados a Paris em 1806). A terceira estátua, que ainda está lá, foi feita em 1818 com o bronze do Napoleão-Trajano derretido (relembrando Paul Valéry: le lion est fait de mouton assimilé).
Estátua atual de Henrique IV, feita do bronze de Napoleão-Trajano

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