terça-feira, 8 de abril de 2014

Rachel Bespaloff

1) Dias atrás, comentei aqui a menção que Edward Said faz a Hermann Broch em seu livro Estilo tardio. Said resgata um comentário de Broch sobre a Ilíada de Homero - na realidade, trecho de um ensaio que Broch preparou como prefácio ao livro de Rachel Bespaloff, On the Iliad: A Study of Homer's Interpretation of Man in War and in Peace (1947). A novidade é que o ensaio de Broch agora está disponível em português, com tradução de Marcelo Backes, incluído na coletânea Espírito e espírito de época (São Paulo: Benvirá, 2014).  
2) Rachel Bespaloff nasceu em uma família de judeus ucranianos, em 1895, e foi criada em Genebra. Começou na música e em seguida foi para a filosofia - está entre os primeiros responsáveis pela recepção das ideias de Heidegger, ainda na década de 1930, período em que escreveu ensaios sobre Kierkegaard e André Malraux, entre outros. Em 1942, fugindo da guerra, saiu da França e foi para os Estados Unidos - trabalhou como tradutora e datilógrafa para o governo, foi professora de francês, até cometer suicídio em 1949 (consta que deixou uma nota de despedida: muito cansada para prosseguir).
3) Uma série de pontos liga Bespaloff a Adorno (que é, de resto, o nome teórico - sobretudo enquanto autor de Minima moralia - por trás da argumentação de Said em Estilo tardio, de onde saíram Broch e Bespaloff), desde a leitura de Kierkegaard nos anos de formação até o exílio nos Estados Unidos. Mesmo a decisão pelo suicídio. Roberto Calasso, em ensaio sobre Adorno, escreve: "América, 1944: lugar de alucinações fáceis, sobretudo para os intelectuais refugiados de língua alemã, juntos expostos ao primeiro e brutal contato com a sociedade industrial pura". Naquele período, continua Calasso, "em grande quantidade, houve suicídios e desoladas solidões em apartamentos minúsculos de Nova York ou de Los Angeles. Muitos não resistiram, tornaram-se fantasmas patéticos da velha Europa, restos de uma cultura que ninguém mais tinha vontade de usar". E então surge Adorno: "Daquela condição humilhante, Adorno soube tirar material precioso para seu maior livro: Minima moralia. E seu momento de máxima força criativa coincide com a situação de máxima vulnerabilidade" (Os 49 degraus, tradução de Nilson Moulin, Cia das Letras, 1997, p. 125).

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