quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Auerbach e a modéstia

David Damrosch escreveu um ensaio em que investiga o reflexo do exílio de Auerbach na Turquia na escrita de Mimesis - e um pouco mais, porque também rastreia certos momentos em que a argumentação de Auerbach procura processar, mesmo que indiretamente, a violência do nazismo ("Auerbach in Exile", Comparative Literature, v. 47, n. 2 (Spring, 1995), p. 97-117). Momentos em que Auerbach aparecia mesmo sem querer aparecer, algo que faz muito sentido em alguém que tanto escreveu sobre o sermo humilis e sobre o sublime cristão e sua valorização da modéstia. Talvez daí a admiração por Dante, que na Comédia se coloca continuamente e simultaneamente tanto como um reles mortal quanto como um abençoado, como alguém que teve acesso a algo inacessível e irrepetível, a viagem pelo além - por isso Auerbach escreve que Dante "transforma todo leitor em discípulo". E no mesmo ensaio, "Os apelos ao leitor em Dante", Auerbach apresenta aquela oscilação diagnosticada por Damrosch em Mimesis: porque, para dar conta de Dante, para dar conta da análise daqueles que considera os pontos altos da arte de Dante, Auerbach tem que se mostrar, e mostrar que está credenciado, com expressões como "...pelo menos em qualquer passagem latina medieval que eu conheça" ou "conheço ao menos uma apóstrofe clássica...", etc. ("Os apelos ao leitor em Dante", Ensaios de literatura ocidental, Trad. Samuel Titan Jr e José Marcos de Macedo, Ed. 34, 2007, p. 111-132). 

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