terça-feira, 25 de junho de 2013

Imaginação e estilo

1) Quando um estudioso dinamarquês, Tom Kristensen, pediu ajuda a James Joyce na tarefa de decifrar Finnegans wake, ele respondeu: "Tom, leia Vico". "Mas você acredita na Scienza Nuova?", perguntou o dinamarquês. "Não creio em nenhuma ciência", respondeu Joyce, "mas minha imaginação cresce quando leio Vico, como não aconteceu quando li Freud ou Jung" (Ellmann, James Joyce, tradução de Lya Luft, Globo, 1989, p. 853). Não há qualquer indicação complementar acerca desse crescimento imaginativo por parte de Joyce. Ellmann também não diz nada sobre a comparação - por que justamente Jung e Freud contra Vico? Mais do que as ideias, seria a forma? Seria a "atmosfera barroca", a "nuvem de impenetrabilidade", as "dificuldades de estilo" em Vico, conforme o diagnóstico de Auerbach?
2) O problema levanta a questão do estilo, da tonalidade própria que um pensador pode imprimir em sua escritura - e talvez o traço barroco de Vico seja justamente o que tenha despertado a imaginação de Joyce. A questão do estilo no pensamento filosófico ocupou boa parte das energias de Jacques Derrida. Sua leitura de Rousseau, por exemplo, em Gramatologia, é uma leitura do posicionamento pessoal de Rousseau diante da tradição filosófica, um posicionamento que é filtrado pela dinâmica textual das Confissões (que já em seu tempo reivindicava a possibilidade do estilo).
3) A crítica que Paul de Man direciona a Derrida é também sobre Rousseau e sobre o estilo - no prefácio a Allegories of Reading, de Man escreve: I began to read Rousseau seriously in preparation for a historical reflection on Romanticism and found myself unable to progress beyond local difficulties of interpretation. Para de Man, as estratégias retóricas de Derrida em Gramatologia estão a serviço da construção do estilo de Derrida, e não a serviço da dissecação do estilo de Rousseau. Novos avatares da "nuvem de impenetrabilidade".        

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