sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Raça e história

1) Antes de Tristes trópicos, Lévi-Strauss publicava, em 1952, Raça e história - um livrinho encomendado por Alfred Métraux para um projeto da Unesco de combate ao racismo. Rondando ainda o problema da civilização, Raça e história investe contra a ideia de "evolução cultural" e de "progresso", argumentando que é impossível comparar culturas - as comunidades, espalhadas pelo tempo e pelo espaço, apresentam soluções diferentes a problemas diferentes (numa variedade ampla de aspectos, que vão desde o controle dos excrementos até a adaptação com o meio). 
2) Roger Caillois, em uma resenha publicada em duas partes na Nouvelle Revue française (dezembro de 1954 e janeiro de 1955), assumiu a posição contrária: para ele, a relativização de Lévi-Strauss era um "etnocentrismo às avessas", um anacrônico decadentismo. O próprio fato de estarmos aqui, debatendo as distâncias e desenvolvendo instrumentais de análise, argumenta Caillois, é um evidente sinal de superioridade. Para Caillois, a validade da "cultura primitiva" está no estímulo à complexidade dos procedimentos levantados pela "civilização" para melhor abarcá-la.
3) No mesmo livro em que elogia Caillois - Exercícios de admiração, de 1986 -, Cioran fala de Otto Weininger, o suicida, misógino e antissemita autor de Sexo e caráter. "Suas maravilhosas monstruosidades sobre as mulheres me extasiavam", escreve Cioran, "Como pude me apaixonar por um subser? Não parava de me repetir". Em um dos ensaios de Tigres no espelho, George Steiner fala que os escritos de Cioran "demonstram um excesso de simplificação maciça e brutal", "uma facilidade sinistra", uma obra que "atesta sua própria esterilidade e cansaço" (para Steiner, basta um único contraponto para a demolição da obra de Cioran: Minima moralia, de Adorno).         

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