terça-feira, 20 de março de 2012

O rei das duas Sicílias, 2

Para Sergio Pitol - que parece ter sido, até hoje, o único escritor a se ocupar com a leitura das obras de Kusniewicz -, O rei das duas Sicílias é uma espécie de belíssima anomalia modernista, que representa uma summa "absoluta da cultura dos últimos tempos". Só posso imaginar o que Coetzee escreveria sobre os livros de Kusniewicz - Coetzee, como leitor rigoroso que é, não deixaria de ressaltar a complexidade de uma poética que não foge do registro histórico e, ao mesmo tempo, consolida um estilo tão preciso e tão amplamente consciente dos registros que movimenta (um esforço "humanista", na acepção de Auerbach). Pitol escreve que, na obra de Kusniewicz, "cada inclinação a um determinado estilo encontra imediatamente seu antídoto". Ainda segundo Pitol, a escritura de Kusniewicz é como "imaginar os mais crueis desastres da guerra, os mais aberrantes caprichos de Goya", só que pintados pela "aveludada paleta de um Watteau". Essa aproximação com Watteau fica ainda mais interessante se recordarmos uma de suas ninfas - deitada nua na relva, como aquela cigana desconhecida que Kusniewicz colocou no centro de seu romance.

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