segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Notas sobre a teoria literária


1) A teoria é uma escola de ironia, escreveu Antoine Compagnon. A teoria frequentemente sente repulsa pela ingenuidade, quando lê o Quijote em chave paródica, por exemplo, enfatizando a função de aprendizagem da literatura (que levaria à delirante colocação em prática dos romances de cavalaria por parte de Alonso Quijano). É também a leitura de Madame Bovary como uma mulher intoxicada por certa literatura. Além de buscar uma alternativa ao senso comum, a teoria literária teria a preocupação de separar a linguagem literária da linguagem cotidiana, singularizando o uso literário em relação à linguagem comum (esse é o lado formalista mais visível da teoria).
2) Uma das coisas mais importantes e interessantes em teoria literária é o imperativo da escolha: a teoria literária é uma lição de relativismo, não de pluralismo. Ou seja, várias respostas são possíveis, algumas até aceitáveis, mas nunca de forma simultânea. Ao invés de se somarem numa visão total e mais completa, as respostas se excluem mutuamente, porque não chamam de literatura ou qualificam como literária a mesma coisa. Não é possível tudo ao mesmo tempo. O procedimento teórico te leva, necessariamente, a uma escolha.
3) Alguns autores declaram ver uma diferença considerável entre Teoria da Literatura e Teoria Literária: a primeira estaria posicionada como um ramo da História, fundada em esquemas e estruturas que designam pertencimentos; a segunda estaria preocupada com o aspecto contingente da Teoria, com o posicionamento possível de uma Teoria dentro do tempo e da história. Para Paul de Man, a Teoria Literária difere da Teoria da Literatura a partir do momento que discute não o sentido ou o valor do artefato artístico, mas as modalidades de produção de sentido e valor (o procedimento teórico que é manipulado no processo).

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