terça-feira, 22 de março de 2011

Gênios, 3

1) Primeiro de tudo: compreender que o atrito proposital de concepções divergentes não deve levar a uma escolha, a uma exaltação da posição fixa: gênio pra mim é quem trabalha duro ou isso de gênio não existe ou o sujeito já nasce pronto. Talvez a manha esteja em trocar o ou pelo e.
2) Eu não sei como Pinker reagiria, por exemplo, ao caso de Rimbaud ou Lautréamont - eles simplesmente não tiveram dez anos para pensar, para trabalhar o fazer artístico. Repare que Pinker descarta o trabalho inconsciente, afirmando que o descanso serve para afastar o gênio do problema, sem "fermentações" alheias ao trabalho consciente. Para Pinker, o gênio é um arquivo ambulante, alguém permanentemente incumbido da tarefa de identificar os pontos cegos desse arquivo - logo, de si mesmo. Não há fissura ou irregularidade; a máquina genial de Pinker é cronológica e progressiva: eles fazem incessantes revisões, aproximando-se gradualmente de seu ideal.
3) O que dizer de Walser, a partir daí? Não há progressão em Walser, não há "olho na concorrência" em Walser. Para Pinker, o gênio não reprime um problema - ele o ataca de frente. Walser está mais para a tergiversação, para o contorno. Na Trilogia de NY, de Paul Auster, um detetive segue um sujeito pela cidade durante dias e dias. Dias e dias passam. O sujeito faz um percurso absurdo, errático, estúpido. O detetive chega em casa, exausto, e decide refazer aqueles trajetos no papel, usando um mapa. Descobre, na deambulação de um maluco, um mensagem cifrada. Cada dia contém uma letra - o sujeito escreveu na cidade usando o próprio corpo, sem deixar qualquer traço. A mensagem final era: a torre de babel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário