quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Paul-Michel, 5

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Paul-Michel publica O nascimento da clínica em 1963. O livro não tem a menor repercussão. Afinal de contas, esse sujeito é médico? historiador? filósofo? Que coisa mais bizarra, dizem. Mas o livro não passa despercebido a Jacques Lacan, que numa sessão de seu concorrido seminário discorre longamente sobre o livro ignorado de Paul-Michel. Nos dias seguintes, algumas dezenas de exemplares são vendidos. O contato entre os dois se dá, via amigos em comum. Paul-Michel janta várias vezes na casa dos Lacan, sem estabelecer com eles laços mais estreitos. Sylvia Lacan, a esposa de Jacques, se lembra de uma frase proferida por Paul-Michel em sua casa na rue de Lille: Não haverá civilização enquanto o casamento entre homens não for admitido. A partir do próprio Lacan, e também de Lévi-Strauss, Paul-Michel pôde realizar toda a sua empreitada arqueológica na obra que, finalmente, lhe valeu a celebridade - As palavras e as coisas, três anos distante de O nascimento da clínica. O curioso é que, dez anos depois, o cenário muda completamente - a amizade morna vira combate intelectual direto. Agora, em 1976, é contra Lacan que ele empreende a pesquisa genealógica de A vontade de saber. Paul-Michel pretende uma arqueologia da psicanálise. Pretende uma ruptura com Lacan, mas, também, uma ruptura com todos os que se opõem a suas análises: ideologias da liberação, freudo-marxismo, teorias do desejo, legados de Sade e Bataille. São doutrinas contraditórias, mas solidárias umas às outras, explica Paul-Michel: estão presas nos mesmos dispositivos de saber e poder.
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